Thaís Jardim
Um rosto de desesperança. Da maquiagem que eu levei horas fazendo diante do espelho, só restam um borrão ao redor dos olhos e vestígios do batom vermelho sangue. É madrugada, o bar já está vazio e o barman coloca diante de mim a última dose de whisky. Ben Harper, tocando baixinho ao fundo, soa como um último suspiro.
Make me feel like a beggar, make me feel like a thief
Make me feel like a battle, that cannot end in peace
Make me feel like running, as if I lost my nerve
Olho para a lâmina do punhal e ele reflete o brilho da última lágrima.
Make me feel like crying, tears I don't deserve.
Mais um gole de whisky. Com a manga da camisa, interrompo a lágrima em sua rota decadente. O barman começa a dar sinais de que vai fechar o bar. Ele tem o ar cansado da noite. Pressiono o punhal contra o peito.
Please bleed, so I know that you are real
So I know that you can feel, the damage that you've done
Minha vida, um filme do
David Lynch. Eu sangro, eu sou real. Tomo o último gole de whisky, deixo a gorjeta sobre o balcão, fecho o zíper do casado e saio caminhando pelas ruas geladas do inverno de Nova Iorque.
Ground Zero. Só ruínas e um imenso, um gigantesco vazio.
Ontem, jantar de fim de ano da
Aiesec Porto Alegre. Hoje,
Coca-Cola Music Mixer. Amanhã, festa de aniversário da Tati na
Liquid (mais uma da série:
Coisas que eu faço em nome da amizade!). Sábado, aula o dia inteiro... de Custos (ninguém merece!). E segue o barco...
Não vou ficar remoendo o passado. O passado não importa pelo simples fato de ser passado, de eu já ter perdido qualquer controle sobre ele. Não vou ficar imaginando, tentando prever o futuro. O futuro não existe, será sempre abstrato. Quando se concretiza, já deixou de ser futuro. Para mim, o que realmente interessa é o breve momento em que o presente é presente. Quero vivê-lo intensamente, até que a morte nos separe.
Carpe Diem, esse é o meu moto.
Transplante de fígado
Mais de dois anos na fila de espera para o transplante de fígado. Mais de dois anos pensando que a morte poderia ser mais rápida do que a fila. Finalmente, ela é a primeira. E agora, para ela viver, alguém precisa morrer. Mas só isso não basta, há uma série de outras coisas. A família do morto tem que autorizar a doação, o órgão precisa estar em boas condições e, pra complicar, é necessário que haja compatibilidade. Cinco horas da manhã e o telefone toca.
Me chamaram, estou indo para o hospital. Ansiedade, medo, esperança. Sentimentos contraditórios, porque o ser humano é contraditório. Mas o fígado não estava em boas condições. Volta para casa para mais noites de expectativa. Dia após dia, volta e meia olhando para o telefone que não toca. Dia após dia, o coração disparando a cada vez que o telefone toca. Depois a rotina, os pêlos crescendo e apagando a única lembrança da cirurgia que não aconteceu. Meia-noite. Glória Gaynor grita
I will survive, I will survive. O telefone toca.
Me chamaram novamente, tenho que estar no hospital às cinco da manhã. A cirurgia já começou...
Os jovens de Greenwich na tela da TV.
Um copo de Martini vazio ao lado da cama.
Ele sorri, deixando os dois dentes de outro à mostra. Ele sorri pois sabe que é o fim. Olha para a câmera, aponta a arma.
Lágrimas. São minhas, não dele.
Ele se dispersa ao vento. Eu choro diante da TV.
(Não se engane. O filme é uma espécie de bomba teen que não vale nenhuma lágrima. Eu é que estava sentimental...)
E você só vai saber
se isso era amor
no dia que experimentar outro
(da trilha de
Greenwich Mean Time)
Come with me
on a journey beneath the skin
Come with me
on a journey under the skin
Sou mais complexa do que pareço ser.
Dentro de mim também existe um universo inexplorado.
Eu poderia te amar com a intensidade de todas as palavras, mas de que adianta, se elas não significam nada pra ti? Eu poderia te enfrentar munida de todas as palavras, mas de que adianta, se elas não te atingem? Palavras soltas, desperdiçadas, perdidas no ar. Duas pessoas que não se entendem... esse é o máximo da separação.
Jogue seu lixo no lixo!
Os guias e a comunidade fazem mutirão, limpam o parque, mas não adianta. É impressionante a quantidade e o tipo de lixo que chega, diariamente, à praia do Araçá. Lixo hospitalar, resíduos industriais, pedaços de sapato, garrafas plásticas, latinhas, sacos plásticos.
As pessoas ficam reclamando que Porto Alegre alaga quando chove, mas não pensam que os bueiros estão entupidos pelo volume de lixo que elas jogam na rua.
A minha bolsa e o meu bolso estão sempre cheios de papeizinhos que eu não joguei na calçada. Carrego uma latinha vazia por quadras e quadras, até encontrar uma lixeira. No meu prédio, fazemos campanha pela
coleta seletiva. Pequenas coisas, simples, que não custam nada, que não exigem muito esforço, mas que fazem diferença sim.
Porturismo Alegre
Passamos o domingo inteiro no
Parque Estadual de Itapuã. Fiquei impressionada com a beleza do lugar. A gente viaja tanto, vai para tão longe, gasta tanto dinheiro e ali, bem pertinho, a apenas 57km de distância, tem esse parque maravilhoso, perfeito pra passar o dia. 13 pessoas, pão com salsichão, cebola assada,
duas paletas de ovelha, um lombinho, uma picanha, 48 cervejas long-neck, 1 garrafa de vodka, limão, coca-cola, água (muita água) e seis horas depois, não havia sobrado nada.
Santa bebedeira,
Batman! Fizemos a trilha do Araçá, jogamos fresbee, cantamos em uma roda de violão.
E viva essa vidinha mais ou menos!
Revival anos 90 and I've made myself so sick.
Sábado, depois de uma roda de violão regada a cerveja na casa de um amigo, fomos para a festa X Milenium no Ocidente. New Order, Jesus Jones, Beck, Blur, Prodigy, Sonic Youth, Smashing Pumpkins...
Dancei, bebi, cantei, enlouqueci. Cheguei em casa às 5h, já sabendo que teria poucas horas de sono. Tudo bem. Essa é a vida que escolhi para mim. So far, so good.
Tic tac e o tempo passa. Tantas coisas pra fazer e o tempo, indiferente, passando. Tic tac. Tanta coisa pra viver e o tempo, impiedoso, passando. Tic tac. Preciso de mais horas! Tic tac. Me dá um tempo... preciso de tempo.
Which 80s band are you?
I am
The Smiths: I am the epitome of unrequited love but at least I do something constructive with it.. sing beautiful songs, which will continue to win audiences over years after we have split up. I can be wistful, cathartic and depressive but at the same time I am a very deep, thoughtful person. More than likely I am contemplating something very important even if I don't look like the sort! I think before I speak and so what I say somehow has more meaning. Basically, I'm a well rounded person so nyah :p
Test created by
Sambam of
blackeyed.net/tristessa
Acompanhantes
Um camarote privê em frente à pista de dança, champagne e whisky à vontade, cerca de oito mulheres lindas, rebolantes em suas micro-roupinhas, e cinco homens bem mais velhos, completamente bêbados e babando por suas acompanhantes. Meu modelo mental não demorou a funcionar: esses homens, entre eles um conhecido oftalmologista, estão pagando pela companhia. Logo, alguns dos homens estão beijando suas acompanhantes. Um pouco depois, uma troca de parceiros e a acompanhante que beijava um deles está, agora, nos braços de outro. E segue o revezamento. Se ainda houvesse alguma dúvida, ela teria terminado quando uma das mulheres protagonizou uma cena de lesbianismo, lambendo e mordendo outra da cabeça aos pés. O mais impressionante é que isso não estava acontecendo em nenhum dos "
inferninhos" da Farrapos, mas em pleno Dado Bier, o antro das mulheres-chapinha e dos homens "Hugo Boss". Eu posso jurar que a performance desse grupo estava bem mais caliente do que as cenas que eu presenciei no Madrigal. Na saída, fragmentos de uma conversa. Um dos homens sussurra alguma coisa no ouvido de uma das loiras e ela responde: "
Meu amor, com dinheiro na mão, pode tudo!" Cada um vive a vida que quer ou que pode. Não vou criticar quem paga por esse tipo de prazer e, muito menos, quem escolhe ganhar a vida dessa forma. Não vou, não posso, julgar ninguém. Mas confesso que fiquei surpresa.
O melhor da noite: o vocalista da
Nacional Kid; abrir a pista com as minhas amigas; e ter ido à festa com o Márcio, que tornou a noite bem mais divertida.
Acabo de devolver os originais de um livro para seu autor. O conteúdo nem foi avaliado pelo Conselho Editorial, pois livros de ficção não se enquadram em nossa linha editorial. Enquanto escrevia a carta, explicando tudo isso, fiquei pensando no autor. Cada recusa é uma expectativa frustrada. Lembrei de um amigo que, uma vez, propôs: vamos abrir uma editora e uma gravadora, pra gravar as coisas que a gente gosta de ouvir e publicar as coisas que a gente gosta de ler. Eu, que já trabalhei em rádio e sou filha de músico e que, agora, trabalho com o mercado editorial, fui taxativa: se formos só gravar e publicar o que gostamos, nós vamos falir em menos de seis meses! Mercado difícil, esse... O que escrever, o que dizer para esse autor, que eu nem sei se tem talento? O que dizer para que a pessoa não desista de seus sonhos? Detesto auto-ajuda, mas foi nela que busquei inspiração.
Segue lendo, segue escrevendo, segue estudando, segue acreditando. Piegas, eu sei. Tão piegas quanto esse sentimentalismo que me acometeu ao escrever a carta.
RUSH
Show do Rush ontem à noite. Cheguei tarde, por volta das 8, e a fila (única) já formava uma meia-lua em torno do estádio.
Surpreendentemente, apesar da demora, não havia nenhum tumulto e o clima era de total integração entre estranhos que, por força da circunstância, acabam ouvindo e participando da conversa uns dos outros. Uma hora depois, quando finalmente estávamos nos aproximando do portão de entrada para a pista, os seguranças, talvez achando que tudo estava muito tranqüilo, resolveram provocar a confusão. "
Não fiquem na fila, atalhem aqui, corram porque o Rush já está no palco". Ao invés da previsível correria e empurra-empurra, o público permaneceu organizado e, ainda, reclamando da ação dos seguranças. Detalhe: quando entramos no estádio, o Rush ainda não estava no palco.
Porto Alegre recebeu Geddy Lee, Neal Peart e Alex Lifeson em grande estilo. Depois do temporal que caiu durante o dia, as nuvens se dispersaram e deram lugar a uma lua borrada e a estrelas esparsas. O público era testosterona pura. Literalmente. Há muito tempo eu não estava, nessa cidade, em um lugar com tão poucas mulheres. Ponto alto da noite: o solo do baterista Neal Peart. Ponto baixo: o bêbado que me segurou pelo braço e pediu para que eu ficasse na frente dele durante o show, porque assim ele poderia me fazer carinho. Se eu me comportasse direitinho, ele até poderia me dizer seu nome! Desconfio que essa arrogância seja própria dele, independente da quantidade de álcool ingerida. Mudamos de lugar.
1h20. Fim de show. Nenhuma briga, nenhum arrastão. Caminhamos feito zumbis, totalmente anestesiados. Caminhamos como quem segue uma procissão.
O pulso ainda pulsa
"Ela foi internada em um hospício porque tentou se matar. Algumas pessoas usam drogas e ficam bem, outras tentam se matar. Qual o limite entre o são e o louco?"
Ninguém merece. Fui dormir às 2h, acordei às 6h, e essa é a conversa que está rolando entre minhas colegas de trabalho. Meio sem paciência, respondi que, talvez, a tentativa de suicídio seja o que qualquer ser humano lúcido deveria fazer, a única coisa sã. Tanto o meu comentário, quanto o meu ar sarcástico passaram despercebidos. Voltei para o meu micro-mundo: minhas duas mesas cheias de papel e livros e meu computador. Descortinei a bela paisagem que se tem da janela do escritório, embora a claridade atrapalhe o trabalho no computador. Aquele pinheiro tão verte, tão alto, tão torto e tão diferente das outras árvores ao redor. Às vezes também me sinto assim, torta, diferente. Não, não estou pensando em me matar. Não sou lúcida. Gosto de insanidades. Gosto de saber que
o pulso ainda pulsa.
Tá decidido. Não interessa que esteja chovendo e que eu vá ficar em uma pista lotada e enlameada de um estádio sem cobertura. Vou tomar banho de chuva, vou pegar uma pneumonia, vou embarrar os tênis, mas vou no show do
RUSH!
Imperadores do Samba
Ontem, no aniversário do pai, o produtor musical Ayrton dos Anjos, mais conhecido como
Patinete, me disse que a Imperadores ganhou o prêmio de Melhor Samba-Enredo do Carnaval 2003. Valeu, Imperadores! Semana que vem estou na quadra, pra conhecer esse samba.
Consciência Negra
O negro está de pé pela contribuição de haver denunciado o silêncio racial com que se cobre o racismo.
Hoje é o Dia Nacional da Consciência Negra.
Não simpatizo muito com a idéia de ter um dia para celebrar grupos que se sentem subjugados, como o Dia Internacional da Mulher, Dia do Orgulho Gay, e o próprio Dia Nacional da Consciência Negra.
You may say I'm a dreamer, mas acho que o ideal seria não ter que pensar em questões de gênero, credo, raça, opção sexual. O ideal seria que essas questões não fossem fatores discriminadores. Aliás, o ideal seria não haver discriminação. Mas vivemos no mundo real, e ele parece se distanciar cada vez mais desse outro mundo, livre de preconceitos. Nesse mundo real, as pessoas se sentem obrigadas a levantar uma bandeira, a destacar e defender sua diferença na tentativa de vê-la aceita ou assimilada. Hoje é o Dia Nacional da Consciência Negra. E por falar em consciência, será que eu, em minha humanidade, posso dizer que não tenho nenhum tipo de preconceito? É provável que os tenha sem saber. Será que não é preconceito o desprezo que eu nutro por aquelas mulheres fúteis, que se cobrem de jóias, maquiagens e roupas de griffe e saem desfilando pelos cafés e restaurantes da Padre Chagas? E quando eu torço o nariz para aqueles fortões que passam metade do dia na academia e só entram em uma sala de cinema se for para ver um filme do Van Damme? Quinta vou no
Dado Bier, combater (ou reforçar) meus preconceitos.
Jerônimo Jardim
Aniversário do meu pai e ele vai comemorar do jeito que mais gosta: cantando no Fellini. Músicos são assim mesmo, só se sentem completos, realizados, quando estão em cima do palco. Como ele mesmo escreveu e cantou em
Terceiro Sinal, que, aliás, foi a música que escolhi como tema de formatura:
Ai o palco é o desejo
que às vezes se reprime
mas sempre me redime
ao acontecer.
"
O desejo sexual existe independentemente do amor. Ter isso em mente evita mal-entendidos, sofrimentos. Se a humanidade aceitasse isso, haveria menos crimes por aí."
Eu admito que sei muito pouco sobre
Catherine Millet, mas isso não vem ao caso. O importante é registrar esse pensamento e refletir um pouco mais sobre o assunto no micro-nível da minha vida e dos meus sentimentos. Meu coração está vazio, não nutre nada de bom ou de ruim. Nem sempre foi assim. Já ardi de desejo, já morri de amor. Já traí e já fui traída.
A condessa descalça...
che sera sera!
Programas de um feriado em Porto Alegre
Não sei se foi por causa da promessa de chuva, se foi por falta de grana, se foi por falta de planejamento ou se os meus amigos simplesmente não estavam a fim de viajar no feriado, mas ao contrário do que eu imaginava, Porto Alegre não virou uma cidade fantasma e não me faltou companhia pra fazer festa e bater o ponto nos bat-points.
A quinta, que era uma incógnita, esteve no limiar do pesadelo. Depois do gran finale da aula de negociação, busquei meus porto-seguros: GUM e Ossip. A noite estava quente e o ar-condicionado do GUM, quebrado. Esse deveria ter sido o sinal pra me fazer abandonar o bar(co), mas
teimosia, thy name is Thaís... E lá vieram sentar conosco aquele homem, acompanhado de seu enorme ego. Muitos minutos de tortura depois, finalmente decidimos mudar de bar e seguir rumo ao Ossip, onde nos aguardavam os amigos, conversas divertidas e interessantes e um final de noite surpreendentemente agradável. Sexta foi marcada por um almoço tre-chic no Sanduíche Voador e por uma noite que começou às sete, no Café do Lago, seguiu pelo Ossip, pelo GUM, e terminou às quatro da manhã no
Ocidente em noite GL - acho que os únicos dois S do bar eram eu e meu amigo. Mas como a música estava boa e a nossa intenção não era "
casar na festa", foi um programa legal. E, claro, antes de voltar pra casa ainda demos aquela paradinha básica no Drive Thru do McDonald's, pra tomar um Milk Shake de chocolate. Desnecessário dizer que eu simplesmente não vi a manhã de sábado. Aliás, estou começando a desconfiar que não existem manhãs nos finais de semana. E se não tem manhã, também não tem café da manhã. O dia começou com o tradicional almoço no Ocidente, seguido de um café no Feito à Mão. Manicures, depilações, compras e uma passada na Feira do Livro mais tarde, me sentindo cheia de energia, fiz uma festinha particular em casa. Eu comigo mesma. Um copinho de Martini com gelo,
New Order a todo volume e pronto, me transformei na
Dancin'Queen. Não é estranho, portanto, que eu tenha ficado até às cinco da manhã no
Gê Powers, dançando, dançando e dançando black music. Domingo não foi muito diferente dos outros dias: acordar ao meio-dia, almoçar na Usina das Massas, passar no shopping e ir para as cerimônias de encerramento da Feira do Livro. Saí do evento carregando uma rosa e um poema. O poema foi entregue pelo próprio pretenso poeta, que me abordou na saída do Clube do Comércio. Tenho feito sucesso com poetas... infelizmente, nenhum se compara a Byron ou a
Pessoa.
Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.
Feriado e compulsão
Fiz um feriado de Internet - essa droga vicia e eu estava precisando me desintoxicar um pouco de tanta virtualidade. Feriado em Porto Alegre, calorzão, nada da prometida chuva... com essa tortura, eu confesso até crimes que não cometi! Mas tudo bem, estava em Porto Alegre, determinada a não acessar a Internet e a seguir o conselho do seríssimo e conceituadíssimo grupo de auto-ajuda Monty Python:
always look on the bright side of life! Abandonar o lado negro da força, entretanto, não é uma coisa fácil. Avaliando o feriado, eu diria que ele se resumiu a três coisas básicas: comer, comprar e sair com os amigos. Aliás, alguém sabe uma boa macumba para tirar encosto de espírito consumista? Gastei uma fortuna em comprinhas - todas necessárias, eu juuuuuuro - e, o que é pior, ainda não estou satisfeita. Minha lista de necessidades básicas de consumo de bens materiais continua enorme, o que significa que daqui a uma semana estarei novamente batendo ponto em shopping centers. Também comecei a descobrir os truques de pessoas com know-how em compras. Justo eu, que sempre detestei fazer compras, que detesto passear em shopping, agora tenho que descobrir as formas de pagamento. É impressionante! Existem diversas modalidades - à vista com desconto, no cartão, à vista ou parcelado - e quem tem mais de um cartão pode ainda jogar com as datas de vencimento da fatura, e o mais complexo de todos, o cheque pré-datado. Eu, por enquanto, nunca entrei no cheque especial, nunca atrasei o pagamento da fatura do cartão e ainda estou optando pelo pagamento à vista, embora já esteja dividindo as contas entre pagamento com cheque à vista, no Mastercard e no Visa. Quando eu começar a parcelar, me internem! Ou chamem a Associação dos Compradores Compulsivos Anônimos...
Agora sou uma mulher de DUAS academias. Sim, hoje ao meio-dia tenho a primeira aula de musculação na Academia da Unisinos. É claro que esqueci de trazer o top e a toalhinha. Se tudo estivesse perfeito, não seria eu, seria outra pessoa começando a malhação. Semana que vem também retorno à Top Fitness, pois as aulas de Negociação terminam hoje à noite. Eu sei que é muita tortura para um único corpinho, mas tortura maior seria evitar os prazeres da mesa de bar. Vamos lá! Junkie, mas em forma...
Cerveja e pizza com os colegas da especialização no Casarão. Depois, uma tacinha de champagne no GUM, com uma amiga. Então, casa. Como esperar que o meu cérebro funcione se sigo afogando meus neurônios em álcool?
Eu sou um representante do Ministério de Defesa da Argentina e estou em uma situação dificílima: os Estados Unidos não poderá fornecer o combustível usado em meus submarinos por causa da quebra da safra da matéria-prima. Seis submarinos precisam do produto, o aditivo está acabando e, pra piorar, a marinha chilena está fazendo manobras no sul do continente. A raiz da cevada plantada nas montanhas da Bolívia pode substituir a matéria-prima usada na produção do combustível. Entretanto, a produção é muito pequena e os brasileiros estão pressionando para adquirir todo o estoque. Convido o presidente da Vanguarda Ltda. do Brasil para uma reunião em Buenos Aires, e o objetivo é tentar um acordo. Buenos Aires, no nosso caso, é uma mesa de bar do Anexo I. Enquanto a nossa negociação acontecia, veteranos confraternizavam com seus bichos que, como é tradicional, estavam completamente pintados e sujos pela mistura de farinha e ovos. O presidente da Vanguarda Ltda. do Brasil é um exímio negociador e fazendo as perguntas certas, em menos de cinco minutos percebemos que nossos interesses não eram conflitantes. Brindamos o fechamento do acordo com uma
cerva bem gelada e voltamos para a aula de Negociação.
U-hu! hip, hip, hurra! Iêêêba...
Acabo de saber que ganhamos o prêmio de design pela apresentação do nosso estande na Feira do Livro.
Não podemos divulgar ainda (escrever aqui não é divulgar, ou é?), pois temos que aguardar a premiação oficial. O que eu posso dizer? Adoro o meu trabalho e
visto a camiseta! Vou ter que bebemorar hoje à noite. Aêêêê...
Shakespeare
Há algo de podre no Reino da Dinamarca (será mesmo?), mas nada de novo na minha vida. Tudo igual. Rotina. E o resto?
O resto é silêncio.
Por que as pessoas escrevem nas portas dos banheiros?, foi o que uma menina me perguntou hoje, no banheiro. Ela fez essa pergunta com evidente tom de crítica e reprovação. Acho que eu nunca havia pensado sobre esse assunto - e por que pensaria? Mas já que ela provocou, resolvi escrutinar as minhas idéias. Sou a favor da liberação do aborto, sou a favor da liberação das drogas e sou a favor da livre expressão. Apesar de ser considerado um ato de vandalismo, não sou contra a utilização das portas dos banheiros como canal para comunicar idéias. Pelo contrário, é até bom ter alguma coisa para ler, algo que me distraia enquanto estou enjaulada naquele cubículo. O problema não é esse. O problema é que é raro encontrar alguma coisa interessante escrita em portas de banheiros. O que se lê é uma coleção de insultos (fulana é puta, todo o mundo que é desse partido é viado, quem vota em tal pessoa é otário, vocês são todos burros), de irrelevâncias sexuais (meu namorado me come de tal forma, sou lésbica e ninguém sabe, quero fazer isso ou aquilo) e de outras bobagens afins. Será que ninguém tem nada interessante para dizer, para compartilhar? Tá certo, talvez eu também não tenha... mas eu não escrevo na porta dos banheiros!
Até quinta, minhas noites estarão ocupadas com a aula de Negociação. Embora o professor insista que todos nós somos exímios negociadores, não é assim que eu me sinto. Se eu fosse uma boa negociadora, faria um acordo para não ter que participar das dinâmicas de grupo. Eu destesto dinâmica de grupo! Quem foi o maldito psicólogo que inventou isso? Esse merece um título
honoris causa da Legião da Má Vontade!
Lost
Que droga, além de desastrada, também fico perdendo tudo. Perdi o crachá, perdi a sombrinha, não sei aonde foi parar um par de tênis novinho, acho que perdi a carteira de identidade e, hoje, não consegui encontrar meu cartão de milhagens do ônibus (isso sem falar no sono e nos namorados, que são perdas não contabilizadas). Imagina se, qualquer hora dessas, eu resolvo ter um filho. Se o neném sobreviver ao meu jeito desajeitado de ser, é provável que eu o perca na primeira esquina, na primeira ida ao supermercado. Que horror!
Um dia desses, um amigo me escreveu o seguinte:
Sabe, uma nova fase começou, talvez dure só uma semana, mas tô fora de orgasmo fácil.
Ou é orgasmo supermegahipercompletíssimo ou continuo seguindo o meu profeta da Macedônia, Tibúrcius Antércius : "Mais vale uma bem batida do que uma mal fodida".
Santa filosofia oriental.
Penso nisso porque ontem, entre uma cerveja e outra, o amigo com quem eu saí comentou que há algum tempo ele não tem uma relação sexual memorável, ou, usando a boa linguagem coloquial,
uma transa "di catiguria". Acho que estou mais para a filosofia oriental do meu outro amigo, preferindo passar a noite sozinha a ter uma noite de sexo regular. Por outro lado, pensando melhor, quantas vezes a gente pode dizer, depois de uma transa, que ela foi
inesquecível? Química sexual e paixão é uma boa mistura de ingredientes, mas não são garantias de se chegar a esse patamar superior. Lembro de ter passado uma noite inesquecível com um certo alguém da minha vida. Champagne, creme, muito desejo. Foi uma noite perfeita. Alguns meses depois, resolvemos repetir a dose. Champagne, creme, muito desejo. Tudo muito bom, mas simplesmente não foi igual. O que faltou? Talvez tenha faltado espontaneidade, talvez tenhamos mecanizado as brincadeiras. Não sei. Tem coisas (muitas coisas) que são uma incógnita para mim.
Pequenas histórias de um final de semana
Sexta-feira, saindo da
Top Fitness, ainda com a roupa da academia, uma toalhinha jogada sobre o ombro e o rosto totalmente corado em função do esforço físico, recebi o telefonema de um amigo virtual, jogador de futebol, que queria me conhecer pessoalmente. Concordei. A curiosidade antropológica é um dos meus problemas. Eu digo problema porque além do risco que é sair com uma pessoa totalmente desconhecida, de quem temos poucas ou nenhuma referência, também é comum a gente entrar em uma fria. As pessoas tendem a acreditar que qualquer pessoa que aceita encontrar com um desconhecido é um solitário, um carente em busca de amor e de sexo. Por que ninguém pensa em encontrar um amigo, conhecer melhor outra pessoa? Mas eu continuo ignorando os riscos e as estatísticas, que demonstram que a probabilidade de fracasso é infinitamente maior do que a de sucesso. Fracasso deve descrever bem o que foi o meu encontro com o jogador de futebol. Ele chegou com seu carrão e seu pagode, e acho que ficou extremamente decepcionado ao perceber que eu não sou a gaúcha loira (natural ou de farmácia), tipo gostosona, com as quais os jogadores de futebol gostam de ser vistos. Nosso encontro durou não mais do que 30 segundos e lá se foram o carrão, o pagode e o jogador de futebol. Para a minha surpresa, entretanto, ele voltou a me contatar pela Internet. Talvez ele tenha concluído que em uma conversa virtual, eu posso ter o rosto, o corpo, o cabelo e até mesmo a atitude que ele imaginar.
Sexta-feira, depois do quase encontro com o jogador de futebol, ainda com a roupinha da malhação, resolvi parar no Café do Porto da Nilópolis e tomar uma tacinha de champagne. Na mesa ao lado, três homens conversavam animadamente. Um deles me pareceu familiar. Muito familiar. Fiquei hipnotizada, não conseguia mais desgrudar meus olhos e meus ouvidos do que acontecia naquela mesa. Esperava que alguém, em algum momento, fosse dizer um nome que soasse familiar, que me fizesse ter certeza. Nada. Nenhuma pista. E obviamente, eu não sirvo para detetive, pois um deles logo percebeu o meu fascínio. Fiquei imaginando o que eles poderiam estar comentando quando, em alguns momentos, o tom da conversa diminuía -
"Olha ali, a tarada da mesa ao lado está olhando para cá novamente." ou
"aquela ali deve vir aqui no Café só para caçar." Terminei a minha tacinha de champagne e ainda não sabia o que fazer. Mais uma vez, a frase do filme ecoou na minha cabeça:
você tem medo, mas você não é covarde. O que poderia acontecer se eu fosse até a mesa deles, interrompesse a conversa, abordasse o homem que eu achei que conhecesse e ele não fosse a pessoa certa? Eles achariam que eu sou a caçadora menos original de Porto Alegre, e eu sairia de fininho, super constrangida. Um mico, com certeza, mas com isso eu já estou acostumada. Caminhei até a mesa deles, abri o meu melhor sorriso e disse:
com licença, me desculpem mas... Antes que eu terminasse a minha frase ensaiada, o homem olha para mim e sorri:
"Thaís!" Respirei aliviada.
Sábado, 8h15 da manhã, sol e céu azul, e eu buzinando na frente da casa da minha colega para irmos para a aula. Tinha dormido pouco porque, obviamente, não resisti e dei uma passada no GUM com uns amigos. Saí mais cedo, é verdade, mas não tão cedo a ponto de ter um mínimo de seis horas de sono. Apresentações, apresentações e apresentações. O dia inteiro, das 8h30 às 16h, o sol brilhando na rua e nós em uma sala de aula, ouvindo um por um dos trinta colegas apresentarem seus pré-projetos de estudo de caso. Quanto vale o meu tempo? Estou pagando por uma aula chata e inútil, tenho a sensação de estar perdendo tempo. Como mensurar esse prejuízo? Um colega sorri e diz que isso não importa. O importante é que o banco dá 30 dias no cheque especial. Outro diz que a solução para o problema é, depois da aula, beber cerveja em um boteco. Concordo. Nove garrafas de cerveja depois, começa a chover. O sábado de sol e céu azul se transforma em um dia cinza e chuvoso. Tudo bem, eu precisava de um bom motivo para ficar uma noite em casa.
Domingo. Fui ver
Casamento Grego na sessão das 16h do cine Moinhos. O filme é uma comédia despretensiosa, dessas que faz com que a gente saia do cinema se sentindo bem, feliz, leve. Além disso, é o conto de fadas da mulher normal, que não corresponde aos padrões de beleza, que está longe de ser uma Julia Roberts. Talvez tenha sido o meu estado de espírito, talvez tenha sido condicionamento por estar em um shopping, o fato é que uma vitrine específica despertou o meu monstrinho consumista. Eu detesto ir a shopping centers e detesto fazer compras, mas quando encontro o que eu quero ou gosto, sou capaz de levar uma loja inteira para casa. Sorte minha que esse meu monstrinho prefere ficar hibernando, inativo. Gastei mais de duzentos reais em roupa! Como fazer compras não é nenhuma terapia para mim, carreguei o meu bolso vazio e a minha consciência pesada para o Café do Porto da Padre Chagas e tomei uma tacinha de champagne, enquanto minha mãe optou pelo tradicional chá inglês e minha tia pediu água e café expresso. Saí antes delas, pois tinha que buscar o carro no estacionamento do shopping e seguir para o churrasco na casa do meu pai. Eis que, passando por uma vitrine, vi um sapato abanando e sorrindo para mim. Entrei na loja. O sapato da vitrine era exatamente o meu número. Experimentei. Gostei.
"Vou levar", informei à vendedora. Ela respondeu com um inusitado
"olha para a vitrine". Essa vendedora deve ter algum problema, pensei. Mesmo assim, olhei em direção à vitrine e me deparei com dois rostos conhecidos: minha mãe e minha tia, fazendo sinais e caretas. Coincidências. Elas estavam passando pela loja, viram o sapato e comentaram:
"esse sapato tem a cara da Thaís". Olharam para dentro da loja e constataram que uma pessoa estava experimentando aquele sapato. O olhar foi se desviando do sapato para a pessoa e pronto, me pegaram em flagrante, cedendo a mais um impulso consumista. Comprei o sapato, é claro, e corri em direção à saída.
Estou saindo do churrasco na casa do meu pai e encontro com um amigo, que mora no mesmo prédio, saindo de moto. Sincronia. Ele estava sem rumo e eu queria bater o ponto no Ossip, que é o bat-point dos domingos à noite. Pessoas conhecidas, conversa agradável, cerveja gelada. Ficamos lá até às 2h.
Em homenagem ao final de semana, mais um fragmento do
Fragmentos:
Eu encontro milhões de corpos na vida; desses milhões, eu posso desejar algumas centenas; mas dessas centenas, eu amo apenas um.
Será? Não seria possível amar pelo menos uma meia-dúzia das milhares de pessoas que passam por nossas vidas? Eu acho que, até agora, tive três amores na minha vida. Mas se Barthes estiver certo, se das centenas de pessoas que eu desejei e desejo, apenas uma será objeto do meu amor, então talvez eu ainda não tenha amado ninguém.
Mais uma noite agradável, em que perigrinei pelos meus bat-points. Depois do sucesso que foi a sessão de autógrafos da
Editora na Feira do Livro, pude respirar aliviada. Eu sempre fico tensa nessas sessões de autógrafos. Será que vai ter muita gente na fila ou será que o autor vai ficar ali, sentadinho, olhando ansiosamente para as pessoas que chegam, esperando enxergar a capa do seu livro nas mãos de um incauto? Mas a nossa sessão de autógrafos transcorreu bem. Nada que se compare às enormes filas que se formam quando o Antônio Pinheiro Machado autografa o seu Anonimous Gourmet, é claro, mas o suficiente para manter os autores ocupados por toda a uma hora de duração da sessão. No Start Talking Café, eu cheguei por volta das dez. O bar estava cheio de pessoas conhecidas, de amigos, o que é sempre garantia de bons momentos. Além disso, o menino que estava se apresentando - que falha, não sei o nome dele - tem um bom repertório. Dali, fui para o GUM com um amigo, que passou parte da noite tentando identificar, a cada homem que entrava no bar, qual era e qual não era o meu tipo. Errou todas! Existe alguma pesquisa que comprove, cientificamente, que o cérebro do homem é diferente do da mulher? Ou será que essas nossas diferenças, essa incompreensão entre homens e mulheres, é mero condicionamento?
O Ministério da Saúde não adverte, mas deveria:
Acordar seus monstros é prejudicial à saúde.
Ontem eu resolvi me levar ao cinema. Me levei para ver
Dragão Vermelho que, sinceramente, não é o filme mais adequado para uma mulher ver quando resolve sair sozinha. Passava da meia-noite quando saí do cinema e, como era de se esperar, eu estava completamente paranóica, olhando com desconfiança para todo homem que cruzava o meu caminho, tentando calcular mentalmente as chances de eu me envolver com um psicopata. Já me envolvi com muitos loucos mas, por sorte, todos eram inofensivos. Eu mesma, admito, sou meio louca, meio inofensiva. Enquanto eu caminhava sozinha, seguindo pela Lima e Silva em direção à Venâncio Aires, lembrei de uma frase do Anthony Hopkins no filme: você tem medo, mas não é covarde. Foi então que tive o impulso de parar e tomar umas tacinhas de vinho tinto no GUM. Eu ainda estava tremendo. Seria medo? Seria frio? Nem eu sei ao certo. O porteiro sorriu, os garçons me cumprimentaram afetivamente, algumas pessoas me olharam como quem diz: "eu sei o que você fez na
Balonê passada!" Nada como estar em casa e essa casa ser um bar cheio de gente! Eu estava sozinha, mas não me sentia sozinha. Pequenos prazeres. Quem precisa mais do que isso? Eu não! Foi uma noite agradável.
Lembro de uma obra apresentada na II Bienal do Mercosul, que alertava para a poluição dos rios. Agora, uma notícia chama atenção para possíveis acidentes ambientais, causados pelos barcos em péssimo estado que atracam no porto. Pobre rio que abraça a cidade. Tão presente, e tão esquecido! Talvez ele seja o perfeito retrato desses tantos brasileiros cujas súplicas por uma moedinha nós fingimos não ouvir.
(leia mais)
Sou um desastre! Segunda à noite, caminhando no escuro (eu adoro ouvir música no escuro), esbarrei em uma cadeira que estava no meio do caminho -
no meio do caminho tinha uma cadeira, tinha uma cadeira no meio do caminho - e esfolei o pé. Ontem, consegui bater com a mão direita na quina de um móvel.
Ai, que dor! Estou com a mão enfaixada, pra evitar fazer alguns movimentos mais dolorosos. Com isso, lembrei de diversas situações esdrúxulas. Uma vez, na Dinamarca, eu consegui derreter a tampa do fogão elétrico. Também na Dinamarca, hospedada na casa de um amigo, resolvi exibir meus dotes de passadora de café. Resultado: café espirrando por toda a cozinha, sujando o chão, a parede, as louças que estavam sobre o balcão. Não vou nem mencionar todas as vezes que quebrei pratos ou copos, que virei taças de vinho, que me sujei com o molho de alguma comida. Como é possível alguém ser tão desajeitada? Não é nada sexy!
Solidão e vazio. É a isso que estamos condenados? Eu busco o "outro" para minimizar a minha solidão, para encher um pouco o meu vazio.
"
Eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço?
Meu amor, cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado."
"
But isn't desire always the same, whether the object is present or absent? Isn't the object always absent?"
Fragmentos de
A arte de produzir fome, de Rubem Alves (Folha Sinapse, terça-feira, 29 de outubro de 2002, n.4):
(...) O pensamento é a ponte que o corpo constrói a fim de chegar ao objeto de seu desejo. (...) A maneira mais fácil de abortar o pensamento é realizando o desejo. Esse é o pecado de muitos pais e professores que ensinam as respostas antes que tivesse havido perguntas. (...) Conhecimentos são extensões do corpo para a realização do desejo. (...) Conhecimentos que não são nascidos do desejo são como uma maravilhosa cozinha na casa de um homem que sofre de anorexia. (...) Dizia Miguel de Unamuno: "saber por saber: isso é inumano".
"I fall, I flow, I melt... the gentleness of the abyss!"
Roland Barthes, em
Fragmentos de um discurso amoroso.
Final de semana
Final de semana maravilhoso, apesar da ressaca de ontem. Enfim, foi digno de
RêBordosas e
Alines.
A noite tranqüila que eu imaginei que teria na sexta foi substituída por uma noite versão submundo. Tudo começou
light, em um jantarzinho básico no
Monte Polino com um amigo, parceiro de algumas noitadas insandecidas. Como uma noite básica não é uma noite básica se não passarmos nos
bat-points, fomos ao GUM. A nossa passadinha rápida por lá se estendeu até sermos praticamente expulsos do bar (sabe como é: quando eles já diminuíram a iluminação ao máximo, desligaram o CD-player e as cadeiras estão viradas sobre as mesas, a gente percebe que está na hora de pedir a conta). E como um bom parceiro de noites insandecidas topa qualquer loucura, nossa noite terminou na Farrapos, mais especificamente, no
Madrigal (atenção menores de dezoito anos e pessoas que sofrem de problemas cardíacos, não cliquem nesse link!). Quando saímos de lá, com a sensação de termos sido assaltados - afinal, 60 reais por seis cervejinhas long neck é um absurdo, não é mesmo? - o céu já estava azul.
Não dormi muito. Não costumo dormir muito. Às 12h30 já estava batendo o ponto no tradicional almoço de sábados no
Ocidente. Como não faço nenhuma questão de ser coerente, depois de uma comidinha natural no bairro underground da cidade, fui
sobremesar (esse verbo não está no Aurélio, mas e daí?) um brownie com sorvete no
Café do Porto, reduto das "mulheres-chapinha" porto-alegrenses. Por que não ser eclética? Como já estava a poucos passos do cine Moinhos, aproveitei para ver
Hable com Ella. Sim, sim, sou fã do
Almodóvar!
E veio a noite. E à noite, tinha festa Balonê. Primeiro, passamos no Ossip e umas amigas (mui amigas) nos convenceram, sem muito esforço, a tomar Ipioca com cerveja. Diversas doses de cachaça depois, seguimos rumo à Balonê. Amnésia. Não tenho muito o que falar sobre a festa porque não lembro de quase nada. Estou tentando montar o quebra-cabeças com as poucas lembranças que me restam e com o que os outros vão me contando. Sei que estava muito boa. Sei que me diverti. Sei que dancei muito. Sei que cheguei em casa às 11h30 de domingo, pelo horário de verão. Está no blog do
Rafa:
"CENA 2, INT, NOITE
O bar está enchendo, as pessoas estão dançando, apesar de algumas atrapalhadas com seu colega, o som é um sucesso.
CENA 3
Vários flashes de momentos envolvendo drogas, cervejas, papos
CENA 4
5 da manhã, a festa vai rolando, as pessoas começam a se querer perigosamente (...)"
Depois de apenas duas horinhas de sono, acordo para a programação dominical. Almoço no
Bistrô do MARGS, visita à mostra Paris 1900, breve tour pela Feira do Livro, com uma parada estratégica no estande da Editora pra ver como estão as vendas. E como não poderia deixar de ser, apesar de ainda seqüelada pelos excessos da noite anterior, levei a minha cabeça latejante e o meu corpinho insone e exalando a cachaça ao Ossip. Dessa vez, não bebemos Ipioca. Viva a Coca-Cola light!
Um dia eu encontrei comigo. Nós nos olhamos e não nos reconhecemos. Segui adiante, sem olhar para trás. Não sei aonde vamos parar...
Blasé.
Dei uma olhada na Folha de São Paulo de ontem e nada despertou o meu interesse. Acabo de esboçar o texto de um anúncio, aprovar o layout da embalagem que faremos para o nosso calendário de final de ano, definir a quantidade de cartões de Natal que precisaremos. Mas nada muda o meu (des)ânimo. Daqui a pouco vamos para a solenidade de abertura da Feira do Livro. Eu e meu ar blasé.
Hoje é o tédio. Ou talvez seja um imenso cansaço.
Reflexos e reflexões
Espelho, espelho que revela para mim tudo o que em mim eu gostaria de ignorar. Espelho impiedoso, qual a tua utilidade? Me torturar mostrando a mim a minha própria imagem? E quem precisa de
imagens? Como se uma pessoa fosse somente o que é possível enxergar. Mas se houvesse um espelho que refletisse o meu eu interior, será que eu gostaria mais de mim? Seria bom pensar que sim, mas cá entre nós, sei que definitivamente não. Não sou perfeita. Na verdade, sou muitíssimo imperfeita E não adianta querer mudar. Sou assim. Essa sou eu. Se fosse diferente, seria outra pessoa. Mas espelho, espelho, por que me revelar tudo isso em uma só mirada? Por que me mostrar tudo isso justo agora, que estou pronta pra sair? Está certo... vou trocar de roupa.
Neste quarto repleto da palavra dos outros, procuro encontrar as minhas próprias palavras.